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DF retoma atividade, mas só representa 3% dos serviços

14/10/2020

Papelão, plástico, cobre, alumínio, vidro, isopor… Você já ouviu falar de coleta seletiva? E que, na hora de dispensar o lixo, deveria separar materiais recicláveis do que é orgânico? O motivo é simples: os recicláveis podem ser reaproveitados e também porque demoram muito mais tempo para se decompor na natureza. “Nós temos um problema muito sério, em que só 3%  dos nossos resíduos são coletados para a coleta seletiva”, explica a professora Izabel Zanetti, pesquisadora em desenvolvimento sustentável em Brasília. A meta para 2020, segundo relatório público do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) é que a porcentagem chegasse a 4,48%.

 

 

Mesmo quem já ouviu falar e até tem consciência do problema esbarra em dúvidas, segundo a pesquisadora. A professora Izabel Zanetti também chama atenção para a carência de informação a respeito dos horários e locais aonde o caminhão da coleta seletiva passa. “Muitas vezes nós deixamos à disposição, no meio fio, nas calçadas de nossas casas, condomínios, e o caminhão da coleta não passa. E ai passa o outro caminhão, que recolhe os resíduos normais, e recolhe esses materiais selecionados”, lamenta a professora.  Saiba aqui quais são os horários de coleta regular e seletiva de sua região administrativa.

 

Como é possível verificar, regiões ainda estão com a coleta seletiva suspensa.  Isso porque, neste ano, em especial, a pandemia prejudicou ainda mais o processo de conscientização. Inclusive, durante a pandemia, a coleta seletiva teve suas atividades interrompidas. O decreto do governador Ibaneis Rocha se deu devido à necessidade de proteger os trabalhadores do coronavírus. “Os trabalhadores não tinham EPI’s (equipamentos de proteção individual) adequados para a separação. Nem luvas, nem máscaras. Como o coronavírus se alastrou rapidamente, acharam melhor suspender esse trabalho”, explica o diretor de comunicação do Sindicato de Limpeza Urbana (SINDLURB), Raimundo Nonato.

 

O impacto foi tamanho que, se em janeiro, a porcentagem era de 3,88%, em junho chegou a apenas 0,39%. Para se ter uma ideia. Numa comparação de atividades de coleta seletiva, desde 2017, tem sido perto de 30 mil operações. No primeiro semestre de 2020, foram 11 mil.  Foi em junho, após três meses de suspensão no Distrito Federal, a equipe coleta seletiva foi autorizada a voltar gradualmente às atividades. Dentre algumas das exigências para a volta ao trabalho, tem-se o distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os trabalhadores, pia com sabão e água corrente nos galpões, álcool em gel 70% na área administrativa, deixar os resíduos coletados “em quarentena” por 48 horas, etc.

 

 

 

Coleta seletiva

 

Os trabalhadores que atuam nessa área têm consciência de que se trata de uma prestação de serviço voltada para proteção do meio ambiente. “Quando se faz a coleta seletiva, a gente está tirando do meio ambiente materiais que iam demorar anos, décadas, para se decompor. Então, quando ela é bem feita, o dano, o impacto ambiental é minimizado”, explica Raimundo Nonato. 

 

O diretor de comunicação do Sindlurb explica que os trabalhadores que atuam nas cooperativas (há 29 com contratos em vigor) também foram prejudicados porque ficaram sem material para trabalhar. “Outra consequência foi que esse lixo foi jogado todo no aterro, todos aqueles materiais que vão levar décadas para se decompor. Isso diminui a vida útil do aterro, que foi criado para receber apenas rejeitos, e acabou recebendo todo o lixo”. 

 

De acordo com o dirigente, antes mesmo da pandemia, o aterro já estava recebendo 70% de todo o lixo produzido em Brasília. “As usinas não dão conta de fazer o tratamento do lixo orgânico. Dessa forma, muito lixo, do jeito que é tirado das ruas, é levado direto para o aterro” explica. Segundo o SLU, em janeiro, o aterro recebeu 73.866 toneladas de lixo. Em fevereiro foram 65.125, e em março, o mês que a coleta foi interrompida, recebeu  71.285. 

 

Informação

 

Tanto para a especialista quando para Raimundo Nonato, isso seria fruto da pouca divulgação do sistema de coleta seletiva e da falta de informação da população. “A população poderia contribuir muito mais se ela fosse bem orientada pelos gestores. O Serviço de Limpeza Urbana deveria investir em campanhas, conscientizando toda a população da importância da Coleta Seletiva”, explica Raimundo Nonato, do Sindlurb. 

 

A universitária Camila Demienzuck, moradora da Asa Sul, que faz a separação do material para coleta seletiva, relata que, onde mora, não costuma ter acesso à divulgação de informação a respeito do tema. “Vejo que muita gente ainda não faz a separação correta. Ou por não haver tanto incentivo ou por talvez não saberem como fazer a separação corretamente. Não costumo ver muitas campanhas. Acho inclusive que deveriam haver mais”. 

 

“É necessário orientar como se deve separar o lixo e como ele deve ser recolhido, porque no dia que for passar a coleta seletiva, deve-se colocar na frente das casas apenas o lixo seletivo, e no dia da coleta orgânica não colocar, junto, o lixo reciclável, pois o coletor que passar ali, não tem como separar aquilo naquele momento”, esclarece Raimundo. 

 

Prestação de serviços

 

Em Brasília, de acordo com o SLU, em 100% da área urbana e parte da área rural, desde 2014. O sistema adotado na capital é o chamado “Porta a porta”. “Atualmente, acontece 100% em 17 regiões administrativas (RAs), parcialmente em sete  RAs e outras sete ainda não atendemos, mas está previsto em breve”, explica Francisco Mendes, assessor especial  da Diretoria Técnica do SLU. 

 

“Tem um veículo coletor, um caminhão especial, que passa por todas as ruas da cidade e coleta apenas aqueles materiais que ficam dispostos na rua junto ao meio fio”, elucida a professora Izabel Zanetti. “Onde não tem a coleta porta a porta, existe o Local de Entrega Voluntária (LEV), onde a população pode entregar seus materiais recicláveis”, completou a pesquisadora.  O SLU instalou 104 papa-recicláveis (de um total de 244 a serem disponibilizados), incluindo lugares que não tem coleta seletiva porta a porta.

 

 

 

De acordo com Francisco Mendes, a frequência é de acordo com o plano de trabalho das contratadas, ocorrendo entre uma a duas vezes na semana, e dependendo da demanda, pode aumentar a frequência. 

 

Nos blocos da Asa Sul, Camila Demienzuck conta que os moradores separam o lixo em sacolas separadas e o zelador do prédio é responsável por separar os lixos orgânicos e secos e colocar para recolhimento nos dias certos. A estudante conta que pratica a separação do lixo a mais ou menos três anos. “Desde que meu condomínio passou a utilizar duas lixeiras diferentes para colocarmos o nosso lixo. Antes disso eu não separava”, explicou a jovem. 

 

Quanto à suspensão das atividades, Camila relata que, quando interromperam a coleta, o zelador do prédio recebeu um informativo informando a respeito da diminuição do recolhimento do lixo e da suspensão da Coleta Seletiva. “Agora o caminhão só passa dia sim dia não e o lixo vai todo misturado. Além disso, o volume de lixo aumentou, até porque agora as pessoas estão ficando mais em casa”, completa a estudante. 

 

Para a professora Izabel Zanetti, o sistema de Coleta Seletiva de Brasília é bom, mas precisa ser aperfeiçoado em alguns pontos. “O primeiro é informação, o segundo é investimento em educação ambiental para a população e o terceiro seria o aumento de locais de entrega voluntária, que é novo aqui no DF”, diz a professora.

http://www.agenciadenoticias.uniceub.br/?p=25011

 

Por Mayra Christie

 

Fotos: Divulgação

 

Supervisão de Luiz Cláudio Ferreira


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