Filiada

Gari atleta cria vaquinha para pagar curso de Educação Física: "fazer faculdade é uma grande benção"

28/01/2021

Luciano Márcio é corredor há mais de 10 anos

Em momentos como o que vivemos, o jornalismo sério ganha ainda mais relevância. Precisamos um do outro para atravessar essa tempestade. Se puder, apoie nosso trabalho e assine o Jornal Correio por apenas R$ 5,94/mês.

 

Conhecido como gari atleta, Luciano Márcio dos Santos Carvalho, 35 anos, acumulou mais de 30 prêmios durante os mais de 10 anos como corredor. Agora, ele tem um novo objetivo: se formar em Educação Física. A fase do vestibular já foi vencida, mas ainda é preciso conseguir os fundos para arcar com os 4 anos de curso, na Uniasselvi. Para vencer mais essa meta, ele criou uma vaquinha online e conta com a ajuda de apoiadores, que já doaram R$ 5,2 mil.

 

Iniciada há cerca de um mês, a arrecadação de dinheiro foi ideia da esposa, Taiane Pereira, 29. Luciano Márcio conta que o dinheiro já cobre um ano de faculdade, mas ele ainda precisa pagar os outros 3. As aulas devem começar em fevereiro ou março deste ano. Para ajudar, basta entrar no link da vaquinha (http://vaka.me/1643014). “O dinheiro é para pagar os custos da faculdade. A mensalidade é de R$ 319 e busco o apoio para conseguir me formar”, conta o gari atleta.

 

O desejo de fazer o curso surgiu junto com o começo da carreira de atleta, quando muitas pessoas passaram a dizer que Luciano Márcio tem o perfil para ser um profissional de Educação Física. “Eu tenho o dom para isso e fazer faculdade é uma grande benção. Recebo apoio de muitas pessoas, inclusive do meu treinador Rafael Peralva”, comemora.

 

A ideia é não deixar de lado a corrida profissional após a formatura no curso, mas alinhar os dois interesses. Luciano Márcio quer se especializar em corrida e trabalhar como personal ou treinar corredores. Para ele, os atletas da sua idade devem se especializar na área porque alguns “não estudam e perdem tudo”.

 

Enquanto não se forma, Luciano Márcio se divide entre a vida de atleta e de gari, em Salvador. A rotina é puxada, mas ele garante dar conta. O despertar é às 4h para dar tempo de pegar o ônibus das 5h para o trabalho, que começa às 6h. Ele tem uma hora de descanso entre às 11h e às 12h, quando aproveita para fazer um treino mais pesado. Depois, volta para o batente, de onde sai por volta das 14h20. Pela tarde, é o momento de um segundo treino. Os compromissos com o esporte ainda incluem a musculação.

 

“Trabalho há 5 anos na limpeza urbana de Salvador. Antes, atuava com serviços gerais. Mas dá para treinar tranquilo, sempre deu”, garante Luciano Márcio.

 

Pandemia

Sem competições, o gari atleta tem treinado praticamente de segunda a segunda - ele ganha um dia de descanso em uma semana de exercícios muito intensos. Seu técnico manda uma planilha de treinamento, que também inclui atividades de musculação.

 

“Treino com grupo, às quartas e sextas. No restante da semana treino sozinho, com atividades na rua e corro longas distâncias no final de semana”, relata Luciano Márcio. Para ele, as competições fazem falta, mas os treinos intensos reduzem um pouco a saudade das provas.

 

Luciano Márcio não se lembra quando ganhou a primeira prova de corrida, mas recorda muito bem de três competições marcantes da carreira. A mais especial é sua primeira exibição na Maratona Salvador de 2017, que terminou em 1º lugar geral na meia maratona (21 Km).

 

“Foi uma prova de grande importância porque ela foi muito divulgada e minha vitória estourou na mídia. Eu era desconhecido e ganhei a prova. Minha foto saiu nos jornais”, relembra. Ele retornou para a prova em 2019, quando correu a maratona completa de 42 Km e terminou em 9º lugar geral.  

 

 

Uma das primeiras provas foi a Corrida do Fogo de 2014, organizada pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA), “É uma prova de 6 Km, que eu acho mais difícil que maratonas por exigir velocidade. Só tem como beber água na chegada. Foi uma corrida inesquecíviel”, conta Luciano Márcio, que terminou a competição no 1º lugar geral. Ele ainda lembra com carinho da meia maratona Farol a Farol de 2014, que finalizou em 4º lugar geral.

 

Início como atleta

Desde os 16 anos, Luciano Márcio tinha o costume de correr com os amigos e foi com cerca de 21 que ele foi chamado para participar da equipe de corrida do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), na Vila Militar do Bonfim. Depois, com 25 anos, ele foi chamado para integrar a Assessoria Esportiva de Rafael Peralva.

 

“Eu me destacava quando corria com meus amigos e uma amiga, que era veterana de corrida, me convidou para entrar na equipe da Vila Militar. Lá comecei no esporte. Depois de um tempo, Rafael me viu correndo e me convidou para fazer parte da sua equipe”, conta o atleta que corre provas curtas e longas.

 

Quando criança, Luciano Márcio gostava mesmo de jogar bola, então, nem imaginava virar atleta de corrida no futuro. Ele cresceu na Vila Operária Luiz Tarquínio, na Boa Viagem, na Cidade Baixa. Atualmente, o atleta mora em Plataforma com a esposa e a filha Luanne Vitória, de 5 anos.

 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela

Marina Hortélio*

28.01.2021, 06:00:00

Compartilhe