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Roberto Nolasco - Economista

Assessor da Fenascon, Formado em economia pela PUCRJ, Pós graduado em administração pela FGVSP, Professor e pesquisador do CEPACC - Centro de Pesquisa para a América Latina da UNB, Consultor do ECOSOC: Conselho Econômico e Social da ONU em Nova York, Coord



O que fazer com o futuro?

03/08/2022

 

Não é gerenciável por todos nós o que pode vir a acontecer no futuro, mas temos a responsabilidade de entender suas consequências bem como propor e lutar por soluções para os trabalhadores que representamos.

Observamos que a sociedade recebe com satisfação o avanço das novas tecnologias que facilitam sua vida e que os deixam felizes em poder agir de forma autônoma e sem precisar da ajuda de terceiros. Pagar contas, comprar viainternet e muitas outras coisas dá um certo ar de independência e modernidade. Criar tecnologias que facilitam a vida é importante, mas seu uso exige uma responsabilidade social por parte das empresas uma vez que na maioria das vezes implica em redução de mão de obra, criando desemprego.

Na hora em que você libera mão de obra ou melhor cria desempregados, alguém tem que dar suporte a essas pessoas para que no mínimo tenham a oportunidade de se requalificar profissionalmente a fim de poder ser absorvido nesse mercado mais moderno, que exige novas competências.

Governo não produz riqueza e sim cobra impostos. Se ele, governo, fica como único responsável por cuidar daqueles que perderam o emprego, qual será o tamanho dos impostos no futuro? Se não aumentar impostos o que o governo vai deixar de fazer para atender os desempregados?

Por outro lado, se você aumenta o número de desempregados, aumenta a pressão em setores que ainda empregam, reduzindo o salário e diminuindo o poder de pressão por parte dos Sindicatos.

 Nosso setor é de Serviços a Propriedade que é de uso intensivo em mão de obra. Deve continuar sendo ainda. Porém num ambiente de desemprego haverá forte oferta de pessoas querendo trabalhar e vai pressionar os setores que de certa forma mantém dinâmica de contratação, como o nosso. Com isto os Sindicatos podem vir a perder poder de barganha uma vez que haverá trabalhadores a procura de qualquer emprego e outros preocupados em não  perder aquele que já tem. Neste ponto é fundamental a solidariedade entre as categorias para que se tenha um apoio aqueles que estão perdendo vagas por contingência tecnológica.

Para enfrentar esta situação que está mais no presente do que no futuro, principalmente atingindo setores de trabalhadores mais vulneráveis, é importante que se estabeleça o seguinte:

 

Incrementar a discussão sobre a Responsabilidade Social Corporativa: a empresa tem um importante papel junto a sociedade de onde ela obtém toda sua lucratividade. Desta forma as empresas que na busca de maior competitividade ou simplesmente melhora nos seus lucros trocar trabalhador por meios tecnológicos, devem participar e /ou promover programa de requalificação de seus trabalhadores que serão dispensados, como uma forma de transição para uma nova forma de trabalho;

Aproveitar que o Brasil é um dos poucos países que tem um fundo próprio para amparo dos trabalhadores, o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Deveria voltar a ser usado para realmente amparar o trabalhador na transição uma vez  que não temos como nos livrar que as empresas resolvam adotar  novas tecnologias altamente desempregadoras; e

Como apoio às ações com recursos do FAT, seria fundamental  a regulamentação do Item XXVII do artigo 7 da Constituição Federal no que tange a proteção dos direitos dos trabalhadores e que reza o seguinte: “Proteção dos trabalhadores em face da automação”. Este artigo foi aprovado em 1988 onde ainda era incipiente a questão de novas tecnologias. Não havia internet por ex. Porém não é uma simples regulamentação e sim dizer o que esperamos de uma lei, já que o problema é conhecido.



Este deve ser um dos pontos importantes em nossa pauta de luta que é o de cobrar a responsabilidade social daquelas empresas que por força terão que modernizar e outras apenas por modernidade. Os postos de combustíveis é um exemplo onde a eliminação do frentista era apenas por modernismo, sem nenhuma vantagem para o consumidor.

Não somos contra a tecnologia, mas a sociedade precisa entender que a criação de um exército de desempregados como temos hoje, não traz benefícios para ninguém e a modernidade pode custar caro a todos.

 


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