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Gari sonha em ser maratonista, ganha tênis, relógio de corrida e ensaio fotográfico

06/10/2022

Pela TV, Andrey William Oliveira Silva, 21 anos, acompanhou as Olimpíadas de 2021. Da janela de casa, via com mesma admiração outros corredores: os garis, seguindo o caminhão de lixo.

 

— Eu vi que os atletas dão o suor, correm muito pelo pódio. Mas também tem outras pessoas correndo na rua, só que pra coletar o lixo. Pensei: "Quero ser gari e quero ser maratonista" —  recorda.

 

Há cerca de um ano, o morador da Vila Safira, no bairro Mario Quintana, zona norte de Porto Alegre, passou de observador a empregado na empresa Litucera, responsável pelo recolhimento do lixo orgânico do município. Para a missão, acorda antes das 6h e inicia a primeira corrida do dia, até a Avenida Manoel Elias, onde encontra o caminhão ainda vazio. Da manhã até a noite, são mais de 20 quilômetros atrás de sacolas deixadas na rua, em lixeiras ou no chão

 

— A gente limpa todo dia, mas volta e tá assim —  diz, apontando para uma calçada suja.

 

O salto do veículo de coleta para as pistas teve o primeiro impulso no sábado (1º). No Parque da Redenção, no bairro Farroupilha, o jovem com sorriso fácil foi clicado pelo fotógrafo Marcelo Campos, que, com 20 anos de experiência em marketing esportivo, doou um ensaio a Silva, na expectativa de ajudar a ampliar o alcance da sua história. 

 

Campos publicou um vídeo Reels no seu perfil do Instagram (@marcelocamposfoto) e criou a conta @andreyogaricorredor para marcar os passos do ainda aspirante a atleta.

 

— Ser fator de modificação na vida de alguém é uma bênção. Quando semeia o bem, a gente colhe o bem — define o fotógrafo.

 

Andrey William Oliveira SilvaHá cerca de um ano, o morador da Vila Safira, bairro Mário Quintana, zona norte de Porto Alegre, passou de observador a empregado na empresa Litucera, responsável pelo recolhimento do lixo orgânico do município. Para tal missão, acorda antes das 6h e inicia a primeira corrida do dia, até a Avenida Manoel Elias, onde encontra o caminhão ainda vazio. De manhã à noite serão mais de 20 quilômetros atrás de sacolas deixadas na rua, em lixeiras ou no chão.

"Se compra um tênis, falta pra carne", diz Silva

Foto: Marcelo Campos / MC10SPORTSMKT / Divulgação

E essa corrente do bem logo se espalhou: pela rede social, chegou a oferta de um relógio de corrida e de um par de tênis — que vai substituir o calçado atual, surrado pela correria do dia a dia.

 

— Se compra um tênis, falta pra carne — justifica Silva. 

 

Na manhã desta quarta-feira (5), o gari falou ao vivo na Rádio Gaúcha sobre o trabalho árduo. 

 

— As pessoas admiram, me elogiam, agradecem. Mesma admiração que as pessoas tinham pelo (atleta) que estava correndo lá na Olimpíada. Se não existisse a coleta, a gente viveria no lixo. Tô fazendo uma coisa que é do bem e outra que gosto, que é correr. As duas coisas juntas — compara.

 

Profissão e paixão compartilhadas


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